2016/06/12

Avestruz (Textos ansiosos)

Imaginem que todos os animais de um zoológico qualquer estão reunidos no mesmo perímetro - e que, não se sabe porquê, nenhum deles está atacando os outros-, imaginem também que há um avestruz e que talvez essa grande ave seja a única de sua espécie ali, agora imaginem que ela conhece um ou outro dos animais no local, mas que ela não consegue se comunicar; ainda imaginando, visualize que o avestruz, intimidado pelo grande número de animais ao seu redor, para tentar se tornar invisível, para fugir dali mesmo sem forças para correr, voar, sumir, enterra sua cabeça e permanece parado, torcendo para que ninguém o veja.
Agora, antes de jogar toda essa imaginação no lixo, imaginem - uma última vez - que eu sou o tal avestruz e que todos vocês são os demais animais, avestruzes ou não. Sem ofensas.
Para o azar da ave, digo, de mim, alguém percebeu e cutucou o avestruz:
“A gente tava observando aquela vaga de carro ali, tinha um carro, ficou um tempão, aí saiu, entrou outro e já saiu de novo, mas você continua aqui. Tá esperando alguém? Tá se sentindo intimidado, né? Quem é? Uma mulher? Me mostra que eu vou lá fazer amizade com ela, aí dou um jeito de te chamar e tal. Tá rolando um apx forte, é isso? Ah, é sim. Mas ok, você que sabe, só tava curiosa mesmo, porque, poxa, faz mó tempão que cê tá aí sozinho, que bad.”
Sorriso tanto simpático quanto constrangedor, o avestruz pensou em falar algo que o ajudasse, mas realmente queria se enterrar pela última vez, mas não tinha coragem para fazer isso na frente de uma pessoa que tentava conversar com ele.
Depois que a desconhecida se distanciou, voltando a sua matilha, quando finalmente percebeu que estava no meio de uma crise, de uma situação totalmente constrangedora - mesmo que apenas e somente para si mesmo -, o avestruz, sem antes hesitar, sai andando, sem olhar pra trás. Quantos mais passos dava, mais sentia algo empurrando as paredes de suas entranhas, dificultando a passagem de ar, um ruído constante martelava sua mente, o avestruz queria se enterrar de corpo inteiro uma última vez.
Este é um texto ignorante, principalmente ansioso, baseado em desenhos infantis, pois, se quem aqui escreve tivesse pesquisado mais sobre o tema - avestruz enterra cabeça -, saberia que esta ave não é tão estúpida e que, quando se vê intimidada ou em perigo, simplesmente sai correndo. Joguem essa analogia no lixo, queimem, ignorem toda a situação.

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