2014/06/10

Sobre não saber ser outra coisa

- Pessoal, eu e a equipe pedimos que todos vocês desliguem seus celulares para não atrapalhar os atores e também porque outras luzes podem prejudicar a iluminação da peça que é bem delicada. - Disse o produtor.
O rapaz que até então observava o homem que alertava o público geral, tornou a encarar a moça de vestido azul e bolinhas brancos (ou triângulos brancos). Segundo ele, ela ficava ainda mais linda quando trajava peças de roupa azuis. Ainda era cedo para que ele conhecesse todo o guarda-roupa dela, mas tal vestido e a camisa azul que vestiu quando assistiram, pela segunda vez, o filme belga que mais parecia um tapa de uma mão que vestia luvas recheadas de pedras, incendiavam a beleza dessa mulher com uma luz hipnotizante. Ele disse:
- Então você vai ter que assistir a peça de olhos fechados... - como ele esperava, ela o encarou sem entender - porque a luz que sai dos teus olhos é muito forte e vai iluminar o lugar inteiro.
Ela só conseguiu rir e dizer:
- Que ruim, que piada ruim!
Só então ele desfez o semblante sério que encarnou antes de sua fala anterior e também riu, mas pelo fato de ela ter considerado aquilo uma piada:
- Isso foi uma cantada!
- Mas foi muito ruim.
- Você que não conseguiu pegar a metáfora, a poética...
- Eu não sou boa nessas coisas de cantada.
- Eu também não sei cantar, acho que faltei essa aula.
Quase duas horas depois, o rapaz, que não sabia lançar cantadas, fez o que acreditava saber fazer. Um tiro. Único disparo. Atingiu seu alvo: Através de um beijo, mostrar a ela, transferir por seus lábios aos dela, toda a intenção, todo o desejo, todas as palavras que jamais conseguiria cantar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário