2016/04/12

Cansado de inventar um título que sintetize tudo o que quero dizer sobre o que senti no momento em que me inspirei a escrever tal texto

De todas as faltas que sinto, a que mais sinto falta é a falta de incômodo por ter espaços vazios a serem preenchidos em minha mente. Agora, sou um arranha-céus com vários cômodos vagos ainda com reminiscências falhas de pinturas e buracos na parede de antigos inquilinos. Únicos sons perceptíveis são os dos meus pés pisoteando o chão, correndo atrás de algum fantasma que não sei se habita minha morada, e os remorsos e contradições correndo e dançando pelos corredores para me assombrar.
Implodir isso tudo seria prejudicial demais, não para mim, obviamente, já que estaria desmoronado, aos pedaços no chão, mas, sim, para quem está perto, tanto no prédio vizinho quanto correndo para longe, devido não apenas a fumaça e o barulho tóxicos da implosão, como também pela chuva de entulhos deslizando pelo céu dessa cidade infeliz e pousando aleatoriamente na cabeça de qualquer pessoa - culpada  por qualquer causa do fechamento da construção ou não.
Reformar o prédio custaria tempo demais: trocar todas bases de sustentação, os ferros infestados não só de ferrugem mas também de melancolia e auto-penitência; liberar os (ainda que poucos) espaços ocupados para fazer uma limpeza completa e não deixar um pedaço sequer de passado, não sei por onde começar, o melhor talvez seja fugir. Fugir de mim mesmo.
Fugindo do prédio, o impulso tomado para desabar em palavras ora dura horas ora dura dez minutos e me força a continuar a escrever mesmo sem vontade, digo, sem certeza de onde parti ou aonde quero chegar. O que começa como um pedido de desculpas, passa por algo como “sinto sua falta” e chega a nada, não apenas em texto chego a nada, e em algum momento começo a me questionar: “Por que razão/emoção perdida no meio do caminho, talvez no primeiro parágrafo, comecei a escrever?” Mais um cansado rascunho sem respostas, seja sobre porquê escrever, porquê me arrepender de algo que fiz ou não, porquê parti, porquê deixei partir, porque acabou.

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